Na semana que ora termina, o Presidente da República de Portugal, Jorge Sampaio, esteve em França em visita oficial, onde promoveu a campanha Português, língua dos novos mundos.
Como se sabe, vivem em França milhares de portugueses e existe já uma comunidade de luso-descendentes de dimensão relevante, constituída por políticos, artistas, agentes culturais, professores, advogados, engenheiros, empresários, sindicalistas, etc. Fora o que há também de muito, e importante, a assinalar sobre os demais lusófonos, brasileiros e africanos, em especial.
Como é regra nestas ocasiões voltou a falar-se muito da Língua Portuguesa, da sua projecção no mundo e da sua aprendizagem nos sistemas de ensino no estrangeiro. A este propósito, permita-se-nos que citemos um texto que em tempos pusemos em linha, aqui no Ciberdúvidas:
«As línguas desempenham uma função crucial na génese das culturas e civilizações e o Português só desempenhará esse papel neste século, na medida, em que se impuser como língua de ciência, de expressão cultural, artística e que veicule relações económicas.
Sendo inegável que muito se tem feito pela defesa da língua em Portugal e pela sua expansão, consolidação e divulgação no mundo, empreendimentos alguns de grande mérito, constatamos, porém, que muito ainda há por fazer. Investir no ensino do Português em países pertencentes a blocos políticos regionais emergentes, como a SADC e o Mercosul, com perspectivas de desenvolvimento económico futuro, será medida acertada. Investir no ensino do Português em países que necessitam impreterivelmente do Português para estruturação do seu próprio Estado e da sua coesão nacional, sob pena de se transformarem em entidades ingovernáveis, será outra medida acertada. A formação de professores de Português nestes países deveria ser considerada prioritária. A construção de materiais didácticos informatizados e de dicionários electrónicos seria outra medida fundamental. Que papel têm desempenhado as universidades portuguesas e as escolas superiores de educação a este nível? Do que conheço, uma acção escassa.
A utilização da televisão para difusão da língua, nomeadamente da RTP Internacional, através da ficção portuguesa e de outros programas adequados, seria essencial.»
Infelizmente, nada do que atrás fica transcrito continua a ser entendido como essencial. Ainda há dias tivemos conhecimento da história de uma professora de Português de um liceu [vestibular] de Lisboa que foi convidada por uma organização não governamental para coordenar um programa educativo em Timor. Solicitou o respectivo destacamento ao Ministério da Educação, que é o que está previsto na lei para casos desses. Mas o Ministério da Educação – ou seja, o Estado português – achou que não. E a professora, para aceitar o desafio de ajudar a promover a Língua Portuguesa em Timor, lá teve de recorrer à licença sem vencimento...
P.S. – Por via da Fundação com o seu nome, o antigo campeão olímpico português em atletismo, Carlos Lopes, passou a organizar a sua própria maratona. Nada a dizer do expediente automemorialista e comercial da iniciativa. Só não se percebe é a razão de uma prova, em Portugal, supostamente portuguesa, se chamar “Lisbon 2005/Carlos Lopes Golden Marathon Memorial”.