1. Na semana ora finda vieram a lume, em Portugal, os resultados das provas de aferição de Língua Portuguesa efectuadas ao 4.º e 6.º anos de escolaridade. Os resultados foram, desgraçadamente, o que se previa.
No que se refere ao 6.º ano de escolaridade, 44% dos alunos demonstraram que não tinham atingido os objectivos mínimos pressupostos, nestes anos, de competências para a compreensão da leitura de um texto; 33% demonstraram falhas na expressão escrita; 34% não aplicam de forma correcta as formas verbais; e só 13% sabem seleccionar, num dicionário, a acepção de um termo adequado a certo contexto.
Em relação ao 4.º de escolaridade, 54% dos alunos não foram capazes de interpretar um guia botânico, não conseguindo, sequer, indicar em que dia do mês poderiam participar numa visita guiada. Só 13% conseguem utilizar a pontuação de forma adequada e só 15% redigiram um texto considerado com estruturação adequada.
Em suma, os conhecimentos explícitos em Língua Portuguesa dos estudantes do 4.º e 6.º anos de escolaridade são deficientes, e se compararmos estes resultados com os obtidos no ano passado, chegamos à conclusão que, embora não tenha havido retrocessos, os desempenhos dos alunos são semelhantes aos dos anos anteriores; ou seja, não progrediram.
Conclusão óbvia: urge criar na escola dinâmicas didácticas e pedagógicas de sucesso, para que os nossos estudantes – estamos a falar de Portugal, mas a realidade não é infelizmente melhor nos restantes países lusófonos –, de qualquer nível de ensino, adquiram as competências mínimas que lhes permitam compreender satisfatoriamente textos adequados aos seus parâmetros culturais e se exprimam com clareza.
2. Se este é um imperativo mínimo para a escola, que dizer deste tipo de "portuguès" escrito nas instruções do uso dos coletes de alta visibilidade comercializados em Portugal, agora com a entrada em vigor do novo Código da Estrada (que a seguir se transcreve de uma notícia do jornal "Público")?
«Colete de sinatização (...):
Tamanho única.
(...) Este colete foi desenhado para ser usado nas vlas públicas. Nos momentos de visibilidsde insuficiente ou de pengo.
Mantenimiento, limpieza e armazenagem.
Para garantir a eficácia continua recomenda-se efectuar a limpieza e o mantenimiento.>(...)
As peças de sinalização devem-se revisar periodicamente para detectar deterioros que posmam ter. Debe-se guardar num lugar fresco e seco.»
[Estas instruções, redigidas, supõe-se, em Espanha, e com os cuidados que ficam expostos, levou o deputado do PCP, António Filipe, a requerer no parlamento português a intervenção das autoridades competentes, na salvarguarda pelo respeito mínimo da nossa língua.]
3. Mas nem tudo foram más notícias para a Língua Portuguesa. A RTP e a Universidade Aberta assinaram, também por estes dias, um protocolo que visa a co-produção de um curso de português pela televisão pública portuguesa, que será emitido na RTP Internacional e RTP África, a partir de Setembro. Com o objectivo de difundir e promover a Língua Portuguesa junto das comunidades emigrantes ou de lusodescendentes, a série terá 24 programas, com duração de 25 minutos cada. A RTP tem a responsabilidade de assegurar a qualidade da realização, assim como a cedência de imagens do seu arquivo, enquanto à Universidade Aberta cabe a produção dos programas, conteúdos, a(c)tores e estúdios inerentes.