A propósito da recente vaga de protestos entre a população egípcia, a comunicação social portuguesa que já adoptou o Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90) mostra-se hesitante sobre a grafia do país dos faraós nas variantes europeia e africanas. Ou seja: mantém-se a forma Egipto, ou passa a escrever-se Egito?
Sabemos que o critério do AO 90 é aproximar a escrita da fonia, suprimindo certas letras, as chamadas “consoantes mudas”. Por exemplo, directo passa a grafar-se direto, e óptimo torna-se ótimo1, porque o c e o p das anteriores grafias não têm som correspondente.
Mas no caso em apreço levanta-se uma questão prévia: em português europeu, o p da antiga forma Egipto faz-se ouvir, ou não? A resposta é negativa: apesar do p pronunciado em palavras da mesma família, como egípcio e egiptologia, cuja grafia se conserva, considera-se que, em relação a Egipto, tradicionalmente não se pronuncia o p no padrão culto europeu, pelo que a nova grafia deverá ser Egito. É esta, aliás, a forma registada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora e no Dicionário de Gentílicos e Topónimos do Portal da Língua (ILTEC).
Observe-se que, no Brasil, a grafia de Egipto/Egito, nunca foi problema, porque a palavra sempre se articulou sem p. Daí Egito, desde os tempos do Formulário Ortográfico de 1943, antes da aplicação do AO 90.
Sobre este assunto, recomendamos a consulta da Base IV, 1 a) do AO 90 e da resposta Novo acordo: Egito/egípcio e ótimo/óptimo.
1 Note-se, no entanto, que, em português europeu, facto e optar não se alteram, porque as letras c e p são efectivamente pronunciadas.
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