Depois de José Saramago, Ciberdúvidas põe em linha um belíssimo poema do grande poeta moçambicano José Craveirinha. José Craveirinha, filho de um português do Algarve e de uma moçambicana, combateu o regime colonial, sofreu as agruras da prisão durante anos (aliás, parte da sua poesia foi criada na prisão). A poesia de Craveirinha é um símbolo de moçambicanidade e há quem o considere como o poeta nacional do seu país, no sentido em que Camões o é para os portugueses. A moçambicanidade da poesia de Craveirinha afirma-se no plano simbólico e no da própria língua portuguesa. A fonética, a sintaxe e a semântica da sua poesia é língua portuguesa moçambicana («as palavras rongas e algarvias ganguissam [namoram em ronga]/ e recombinam o poema»). O poema surge do namoro entre o português e o ronga. Só um poeta como Craveirinha registava assim a aventura das línguas em contacto/contato: o contacto enriquecedor contra a imposição hegemónica de uma língua, tão sufocante nos tempos que correm.
Depois da poesia de José Craveirinha, surgirá no Ciberdúvidas um texto do ensaísta português Eduardo Lourenço. A seu pedido, só a partir de Fevereiro o teremos no Ciberdúvidas. Seguir-se-ão textos de grandes nomes das letras e do pensamento brasileiros e africanos.
Um artigo da presidente da Sociedade da Língua Portuguesa sobre o projecto de revisão curricular do português no ensino secundário em Portugal encontra-se desde ontem no Ciberdúvidas, na rubrica O Português na 1.ª Pessoa. É um contributo para o grande debate actualmente em curso deste lado do Atlântico sobre a subalternização da Literatura Portuguesa nas escolas nacionais, de que Ciberdúvidas não poderia alhear-se.