O ministro da Cultura do novo Governo brasileiro, o compositor/cantor Gilberto Gil, deu uma excelente entrevista ao jornal português “Público”, onde ressalta o seguinte sobre a Língua Portuguesa: a) que ela é o principal tesouro e acervo que permanece nos novos países africanos e no Brasil, fruto das navegações portuguesas; b) que ela diz respeito a todos os povos que se exprimem hoje em português, com o Brasil assumindo as suas responsabilidades acrescidas, em especial para com os países de África, onde mantém vivas as conhecidas solidariedades e cumplicidades históricas; e c) que, daí, a nova política externa cultural brasileira passa pela aproximação, aprofundamento e, até, pela prioridade para com a África lusófona.
Este é, sem dúvida, um discurso absolutamente novo do ministro da Cultura do Brasil, que não pode deixar de alimentar as mais amplas expectativas. O espaço da lusofonia tem de se afirmar essencialmente pelas cumplicidades culturais. Os seus países, ao contrário dos países dos outros espaços linguísticos – nomeadamente os da francofonia e da anglofonia –, são todos eles economicamente periféricos no mundo. A sua afirmação só poderá ser cultural: pelo cinema, pela literatura, pela música. Sem as multinacionais que não temos, é a língua, como diz Gilberto Gil, o principal tesouro que nos une e nos projecta.
Mas esta língua comum – citando de novo Gilberto Gil –, dizendo respeito a todos os povos que a falam, e a nenhum em exclusivo, carece de outra vontade política. Por isso é tão importante vermos o Brasil assumir-se como responsável integrante da língua portuguesa.
Chegou pois a hora de Portugal, o Brasil e os países africanos, através do Instituto Internacional da Língua Portuguesa ou pelas vias diplomáticas julgadas mais convenientes, juntarem esforços no sentido de a Língua Portuguesa vir a ser efectivamente estratégica no século XXI. Ou seja, chegou a hora de uma política da língua finalmente concertada. Em várias frentes, qual delas a mais prioritária: para o reconhecimento como língua oficial do sistema das Nações Unidas; com programas comuns de Portugal e Brasil para a expansão do Português nos países de expressão castelhana da América Latina; e com programas comuns de Portugal, mais os países africanos e o Brasil, pela expansão do Português em África, de modo a fazer-se de cada guineense, de cada moçambicano, de cada angolano, de cada cabo-verdiano e de cada são-tomense um falante de Português.