De uma maneira geral, nós, falantes, somos muito injustos para com as palavras. Veja-se o caso do verbo ficar: sendo uma palavra muito frequente, é raro recebermos perguntas que a envolvam. E, no entanto, a diversidade de construções que este verbo potencia é verdadeiramente surpreendente.
Se pensarmos em ficar como verbo copulativo, há o ficar burro, ficar parvo, ficar doido, que é diferente de ser burro/parvo/doido: ficar burro engrena o sentido de resultado, de causa ou de início de uma situação; ser burro exprime simplesmente um estado. Há também o ficar com uma grande cachola, o ficar com a pulga atrás da orelha e há simplesmente o ficar-se...
Mas ficar pode ser também verbo auxiliar e então temos o ficar a ver navios ou o ficar pensando.
Vale a pena, a este propósito, (re)ler o artigo de José G. Herculano de Carvalho, «Ficar em casa/ficar pálido: gramaticalização e valores aspectuais».