Antes de falarmos, já estamos a emitir sinais: através do código de vestuário e da compleição física — por muito que nos custe reconhecê-lo. Mas o passo seguinte, o exercício da fala, também não é alheio a uma estética: é necessário transmitir um discurso confiante, empático, organizado e doseadamente estilizado.
Como é que a catadupa de informação estandardizada, que nos chega através dos media e das novas tecnologias, vai afectar a maneira como falamos, ainda ninguém sabe ao certo. Mas vai/está a afectar: o que cada pessoa ouve ou lê ao longo das 12 horas de actividade é da ordem das 2,3 palavras por segundo. Por outros números: o cérebro é diariamente atingido por 100 mil palavras.
As diferentes e válidas formações de palavras a partir de uma mesma forma de base são consideradas algo perturbador. Parece que, afinal, a língua é pouco exacta e hesita entre um afixo e outro. Será o caso de domiciliário e domiciliar, de arquivística e arquivologia, de bimensal e bimestral, vírico e viral, recipiente e receptáculo, etc. Mas não há que ter medo destas alternâncias. Elas são, justamente, a fonte do nosso idiolecto.