1. Depois da habitual interrupção que fazemos todos os anos no Verão, Ciberdúvidas retoma nesta data as suas actualizações diárias. Lamentavelmente, não foi ainda possível regressarmos com o novo grafismo concebido pelo “designer” Henrique Cayatte, dada a necessidade da sistematização prévia de todo o arquivo do Ciberdúvidas – actualmente, com mais de 15 000 textos acumulados nestes 7 anos – segundo categorias temáticas. Este trabalho, apoiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, corresponderá a uma melhoria significativa do nosso mecanismo de pesquisa para quantos, por esse mundo fora, querem saber sempre mais sobre a Língua Portuguesa. Sendo no entanto uma tarefa tecnicamente bem mais complexa do que esperávamos, só a deveremos poder ultimar no início do próximo ano. Nessa altura, surgirá então, simultaneamente, o novo grafismo e a nova arrumação do Ciberdúvidas.
2. Nestas férias de Verão, deu-se um acontecimento da maior relevância para o nosso idioma comum. Na V Conferência dos chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, foi aprovado o segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico. A Cimeira da CPLP aprovou uma nova reda(c)ção do Artigo 3 do Acordo Ortográfico, especificando-se, agora, que, para a sua entrada em vigor, bastará a ratificação de três Estados lusófonos, e já não de todos os Estados integrantes da CPLP, como impunha o documento aprovado em 1990. Assim, logo que o Brasil, Cabo Verde e Portugal, os únicos países cujos parlamentos até ao momento ratificaram o Acordo Ortográfico de 1990, fizerem o mesmo quanto a este segundo protocolo assinado agora em S. Tomé e Príncipe, teremos então em vigor uma ortografia comum para os oito países de língua oficial portuguesa.
3. Para esta questão tão importante para a lusofonia, chamamos a atenção para a reflexão do nosso consultor D’ Silvas Filho, em linha na rubrica O Português na 1.ª Pessoa. Independentemente do debate mais alargado que Ciberdúvidas não deixará de acolher, seja entre os seus colaboradores e consulentes, seja do que se for produzindo na imprensa em geral, permita-se-nos a relevância, para já, dos seguintes pontos:
a) Passando o Acordo Ortográfico a vigorar, a médio prazo, no Brasil, em Cabo Verde e em Portugal, espera-se que os restantes países lusófonos não se alheiem do assunto, como o fizeram durante esta quase década e meia entretanto decorrida.
b) O Acordo Ortográfico de 1990 estipulava que, até 1993, os países signatários, através das respectivas instituições e órgãos competentes, tomassem as providências necessárias para a elaboração de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, no campo das terminologias científicas e técnicas. Muito pouco se fez nesse sentido, infelizmente – a despeito, mesmo assim, de algum trabalho realizado pela Academia de Letras do Brasil.
c) No caso de Portugal: será que as entidades oficiais competentes têm algum plano para a actualização dos dicionários editados, alguns até muito recentes e de grande fôlego? São, entre vários outros, os casos do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, do Grande Dicionário da Porto Editora, ou dos brasileiros Houaiss e Aurélio XXI, que ficarão ortograficamente desactualizados com a entrada em vigor do Acordo Ortográfico.
d) E quanto a toda a outra restante a(c)tividade editorial, desde os livros em geral aos jornais, etc., que período de transição está previsto para esta reforma ortográfica do português?
e) Finalmente, ainda e só no caso de Portugal: como será feita a divulgação do Acordo Ortográfico junto das escolas?