Muitas das perguntas que nos chegam visam a identificação da classe de uma dada palavra. A gramática clássica começou por aí, pelas partes do discurso. Mais recentemente, um factor acrescido de perturbação, aquando da introdução da TLEBS/DT no sistema de ensino português, foi, justamente, o aparecimento de uma "nova" classe, o quantificador.
Mas para que serve arrumar as palavras em classes, se, inclusivamente, uma palavra, tomada só por si, pode ter mais do que uma classificação? (cf. mesmo.)
João de Barros, no séc. XVI, recorria à alegoria do jogo de xadrez para explicar a índole do funcionamento da língua:
«(…) E como pera o jogo de enxedrez se requerem dous reis, um de uma cor e outro de outra, e que cada um deles tenha suas pecas postas em casas proprias e ordenadas com leies, do que cada uma deve fazer […] assi todalas linguagens tem dous reis, diferentes em genero, e concordes em oficio: a um chamam Nome e ao outro Verbo. Cada um destes reies tem a sua dama: a do Nome chamam Pronome e a do Verbo, Adverbio. Participio, Artigo, Conjugacam, Interjeicam, sam pecas e capitaes que debaixo de sua jurdicam tem muita pionagem de dicoes, com que comummente servem a estes dous poderosos reies, Nome e Verbo (…).» (1540)
Conhecer a classe de palavra é saber identificar as peças. Falta saber jogar — e saber explicar as regras do jogo enquanto se joga.
No 76.º programa do magazine Cuidado com a Língua! (RTP 1, dia 24, 21h20*, repetido nos demais canais da televisão pública portuguesa e também disponível em podcast): Diogo Infante acampando — ou, melhor, tentando acampar — com um amigo, o actor José Pedro Gomes. Ambos muito pouco adestrados nas artes do campismo, mas muito, muito, interessados nas palavras e nas curiosidades linguísticas à volta das tendas, dos bangalós e das rulotes. Mas, também, à volta do erro muito frequente quando empregamos a locução «a maioria»: com o verbo no singular, ou no plural?
*Hora de Portugal continental.