Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Aceita-se que Luís Vaz de Camões nasceu há 500 anos, em 1524, já no reinado de D. João III. Camões viveu, portanto, a sua juventude no auge do poderio marítimo e comercial português nas margens do Atlântico sul e do Índico, mas presenciou também o começo do declínio deste império, ao qual não deixou de se referir na sua obra maior, Os Lusíadas. As comemorações do aniversário ainda parecem discretas, mas a comunicação social já vai assinalando a efeméride, por exemplo, para noticiar que um problema antigo dos estudos camonianos encontrou resolução: o da existência de uma contrafação de Os Lusíadas, surgida logo depois da primeira edição, em 1572 (na imagem), graças à aturada investigação da filóloga portuguesa Rita Marnoto (Universidade de Coimbra). Resistindo à atual exigência crítica quanto ao passado expansionista e colonial, o interesse por Os Lusíadas perdura, e, para comprová-lo, a consultora Inês Gama realça, em O Nosso Idioma, o papel de Camões para conferir identidade à lingua portuguesa. Este artigo inclui em registo vídeo o modo como vários jovens, estudantes do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, recitam hoje o famoso primeiro verso da grande epopeia de língua portuguesa, de nítida inspiração clássica e virgiliana: «As armas e o barões assinalados...».

Sobre Camões, (re)leiam-se ainda os seguintes conteúdos: "Alguém hoje fala ou escreve como Camões, ou Vieira?!", "O português como língua de Camões é um mito", "Lembrar Luís de Camões, 'numa época de apoucamento da língua'", "O apelido Camões...", "A origem do adjetivo lusíada".

2. Enquanto a guerra alastra no Médio Oriente e o autoritarismo, aliado ao populismo, se instala paulatinamente nos governos de diferentes países, os líderes empresariais e políticos reúnem-se no Fórum Económico Mundial que se realiza em Davos, na Suíça. Como se pronuncia este topónimo? Tal como se escreve ou procurando seguir a pronúncia alemã original? Esta é uma das questões chegadas ao Consultório, no qual se abordam ainda os seguintes tópicos: a anáfora, o género de cisma, a expressão «tempo da outra senhora», os pronomes e determinantes possessivos, o verbo aliar, a concordância com o pronome indefinido tudo, o plural de auto.

3. Às vezes, no calor da comunicação mediática, os políticos valem-se retoricamente do que for preciso, e, neste contexto, a linguagem mais vulgar não é despicienda. Em Portugal, por exemplo, um líder partidário referiu-se à chamada «questão dos CTT» como um sinal de bandalheira, vocábulo de origem popular e intenção pejorativa. Também na rubrica O Nosso Idioma se assinala este caso, num apontamento da consultora Sara Mourato, que se centra no uso da palavra em apreço.

4. Na rubrica A covid-19 na língua, uma nova entrada, a de «doença X», denominação da Organização Mundial da Saúde (OMS) «para qualquer novo patógeno desconhecido suscetível de causar doenças e, potencialmente, vir a configurar uma epidemia no futuro».

5. As universidades portuguesas recebem numerosos estudantes dos países africanos de língua oficial portuguesa e de Timor-Leste. Contudo, as condições em que são recebidos podem estar muito longe de aceitáveis, com consequências negativas no seu desempenho escolar, segundo um estudo do Instituto Politécnico de Bragança. Pormenores sobre este assunto nas Notícias.

6. Dois registos da atualidade respeitante à língua portuguesa:

– A inclusão de três autores de língua portuguesa – os brasileiros Itamar Vieira Júnior e Stênio Gardel, e o moçambicano Mia Couto – na lista de nomeados para o Prémio Literário de Dublin – em inglês, International Dublin Literary Award, e, em irlandês, Duais Liteartha Idirnáisiúnta Bhaile Átha Chliath (Jornal de Notícias, 16/01/2024).

– Os cursos de português que, em Portugal, se organizam para comunidades imigrantes no interior do país, como são exemplos uma iniciativa em Carregal do Sal (Viseu) e outra em Oleiros (Castelo Branco). Ler Jornal do Centro (19/01/2024) e Rádio Castelo Branco (18/01/2024).

7. Relativamente a três dos programas sobre língua portuguesa que existem na rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 19/01/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), o convidado é o professor José Eduardo Franco (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), que mostra a importância da língua portuguesa no processo histórico da brasilidade.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 20/01/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 27/01/2024 às 15h30*), o crítico literário António Carlos Cortez e o ensaísta e escritor Miguel Real debatem a seguinte questão: será que a inovação sintática e a criatividade semântica se manifestam de maneira mais profunda na língua portuguesa quando praticada por escritores oriundos de Angola, Moçambique, Cabo Verde e, especialmente, do Brasil? A professora e consultora do Ciberdúvidas Carla Marques analisa, ainda, na frase «Bastantes alunos passaram de ano porque estudaram bastante», a classe da palavra bastante?

– Palavras elegantes, palavras deselegantes e palavras que transmitem uma falsa sensação de elegância são os temas das emissões de 22 a 26 de janeiro do programada Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* às 18h50*). A convidada é a professora Maria Regina Rocha, consultora do Ciberdúvidas.

 

Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Ciberdúvidas perfez no dia 15 de janeiro p.p. 27 anos de existência ao serviço da língua portuguesa e dos seus falantes, sempre disponível para esclarecer as mais variadas questões que chegam ao seu Consultório e para corrigir, quando necessário, os usos deficitários. Neste âmbito, o Ciberdúvidas lançou aos seus consulentes, no final de 2023, um novo desafio: a eleição da Dúvida do Ano. Entre 10 incorreções ou hesitações usuais, os falantes selecionaram aquela que mais frequentemente encontram, o que levou à eleição de: «Eis os livros que gosto mais» ou «Eis os livros de que gosto mais»? O uso das relativas preposicionadas constitui, assim, a incorreção que ocupa o primeiro lugar do pódio, secundada pelas restantes nove que aqui são analisadas pela consultora Inês Gama. O Ciberdúvidas presta também particular atenção às palavras, sobretudo aos neologismos que vão surgindo na língua, propondo alternativas aos estrangeirismos que pululam, registando e descrevendo as palavras que assumem forma que respeita o português, como é o caso da palavra que nos chega do Brasil: desigrejados. Trata-se de um vocábulo derivado por prefixação, que resulta da associação do prefixo des- à forma igrejados, derivada de igreja. Desigrejado é usado para referir as pessoas que rejeitam a prática de um culto religioso por se sentirem descontentes com aspetos a ele associados ou por não se identificarem com as suas práticas ou crenças.

2. A par dos neologismos, o Ciberdúvidas regressa, não raro, a determinadas palavras consideradas pertinentes em função do contexto que se vive. Na presente data, é o vocábulo aniversário que se destaca e que motiva um novo apontamento da professora Carla Marques, em jeito de felicitação pela data que agora agora se celebra (texto divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2). 

3. A construção «vem mais eu», usada frequentemente em contextos informais, pode ser considerada incorreta? A resposta a esta questão é construída com base no cotejo com a estrutura «vem comigo», constituindo uma das resposta que integra a atualização do Consultório. Poderão ainda ser consultadas respostas na área da ortografia ("O grafema th em latim e português" e "O adjetivo hipostilo"), da morfologia ("O superlativo absoluto de cruel"), da classe de palavras / sintaxe ("A locução 'uma vez que' e a coordenação", "Análise de 'cego pelo ódio'" e "Complemento direto e preposição a") e da linguística histórica ("A origem da irregularidade na conjugação verbal"). 

4. A professora e linguista Margarita Correia analisa alguns dos resultados do  EF English Proficiency Index (Índice de proficiência em inglês) de 2023, incidindo em particular sobre o caso português. Esta abordagem permite avaliar criticamente a importância que, no país, se vai dando à língua inglesa em diferentes setores, face à perda de protagonismo da língua portuguesa (artigo de opinião publicado no jornal Diário de Notícias, aqui partilhado com a devida vénia). 

5. Entre os eventos de relevo, destaque para os seguintes:

–  O 10.º aniversário da plataforma RTP Ensina, que agrega recursos audiovisuais muito diversificados, que servem de apoio aos estudos de várias disciplinas integrantes do currículo escolar português;

– A conferência A Inteligência Artificial na educação – uma nova era na aprendizagem, uma parceria RTP Ensina e Direção-Geral da Educação (DGE), que terá lugar no dia 17 de janeiro e que poderá ser acompanhada em direto na RTP Play.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No dia 15 de janeiro completa o Ciberdúvidas 27 anos de funcionamento. É já um longo percurso faseado por períodos bons e outros preocupantemente críticos. Mas as numerosas questões e comentários enviados todos os dias diretamente a este portal ou através das redes sociais (Facebook e Instagram) são sinal de que vale a pena prosseguir, tantas são as palavras de incentivo vindas de Angola, do Brasil, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Macau, de Moçambique, de Portugal, de São Tomé e Príncipe, de Timor-Leste – ou de qualquer outro ponto onde se fale e escreva português. No sentido de alargar o contacto com o público já conquistado, que, socioprofissionalmente, vai da área do ensino ao jornalismo, levaram-se a cabo várias iniciativas, como sejam a Dúvida da Semana (no Facebook), os Cadernos de Língua Portuguesa, os podcasts realizados conjuntamente com o Laboratório de Competências Transversais (LCT) do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa. Tarda, no entanto, a prometida renovação gráfica e estrutural destas páginas, que são o núcleo da ação do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, desde a sua fundação em 1997 pelos jornalistas João Carreira Bom e José Mário Costa. Conserva o Ciberdúvidas também como principal propósito a divulgação de conteúdos à volta das regras e dos usos da língua portuguesa, sem descurar a sua diversidade mesmo no plano da norma, nos vários países onde tem estatuto oficial. Não sendo fácil defender a perspetiva e o apelo da unidade da língua, o objetivo do Ciberdúvidas é, pois, ambicioso mas não irrealista, como bem demonstra Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, em O Nosso Idioma, fazendo um balanço de mais um ano de intensa atividade neste espaço de acesso livre e gratuito, dedicado ao esclarecimento, reflexão e debate de temas do idioma que nos é comum.

Na imagem, cartografia da língua portuguesa na atualidade, numa imagem da revista Gerador, n.º 42, pp. 128-129.

2. A oralidade ocupa lugar importante na disciplina de Português, mas há ainda muito por investigar e por fazer na prática pedagógica. Na Montra de Livros, apresenta-se o número 60-61 da revista Palavras, da Associação de Professores de Português, editado por Carla Marques e precisamente dedicado ao ensino da oralidade. 

3. O impacto das questões de género, identidade e inclusão nas línguas naturais, entre elas, o português, continua na ordem do dia. Ao encontro desta discussão, a consultora Sara Mourato comenta, em O Nosso Idioma, o uso de termos como não binariedade e bigeneridade conforme aparecem num trabalho da Sic Notícias.

4. Diz-se «o mais brevemente possível» ou «o mais breve possível»? Esta é uma das seis perguntas da atualização do Consultório, onde se responde a dúvidas sobre redobro pronominal, o nome correspondente ao verbo volveratos ilocutórios e intenção perlocutória, o uso de escapada e o verbo deflagrar.

5. Um apontamento à volta de «felizmente que ele chegou», publicado em O Nosso Idioma em 21/11/20023, motivou um diálogo cujo interesse está no confronto (pacífico) de diferentes posições quanto à classificação da palavra que, exibida pela referida frase. Na rubrica Ensino, registam-se três apontamentos sobre este tópico, um da linguista Carla Marques, outro do gramático brasileiro Fernando Pestana e um terceiro, da consultora Brígida Trindade, também professora dos ensinos básico e secundário em Portugal. 

6. As palavras também estão sujeitas a modas, umas tornando-se clichês e outras caindo quase no esquecimento. No Pelourinho, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do escritor brasileiro Eduardo Affonso, que no mural Língua e Tradição (Facebook, 08/01/2024), aborda o tema do apego e do desapego a certos vocábulos.

7. Duas observações sobre palavras recorrentes na recente comunicação mediática:

– A respeito das eleições presidenciais que se realizam em Taiwan, observe-se que este é o nome por que atualmente é oficialmente conhecido o Estado que tem por território a ilha tradicionalmente chamada Formosa. O nome pátrio respetivo é taiwanês, e o nome da capital recomendado é Taipé (e não Taipei). Consulte-se o Código Interinstitucional do português nas instituições europeias e Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves.

– Relativamente à forma houthi, que tem ocorrido na escrita jornalística em Portugal, refira-se que denomina os seguidores de um movimento político-religioso surgido no Iémen há pouco mais de três décadas. Observe-se que é nome que se adapta sem dificuldade ao português, havendo já registo da grafia huti (ver Infopédia).

8. A crise  do Global Media Group ameaça a existência de periódicos centenários como o Jornal de Notícias (JN) e o Diário de Notícias, além do jornal desportivo O Jogo e da rádio de notícias TSF, no panorama da comunicação sopcial em Portugal. Justifica-se, portanto, uma chamada de atenção para a crónica que o escritor português Afonso Reis Cabral escreveu a respeito da greve dos trabalhadores do JN e outros jornais em 10/01/2024 – texto publicado nas páginas digitais do próprio JN.

Sobre este assunto vide, ainda: Carta se amor ao JNOs passos perdidos da Global Media Quem comprou o grupo Global Media?

8. Entre os programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

Língua de Todos (RDP África, na sexta-feira, 12/01/2023 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), onde se entrevista o linguista Carlos Rogério Silva, do Centro de Linguística da Universidade do Porto, sobre o CreoPhonPT, projeto que pretende estudar de forma profunda todos os crioulos de base lexical portuguesa.

Páginas de Português (Antena 2 no domingo, 14/01/2023, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 20/01/2023 às 15h30*), conversa-se o professor José Eduardo Franco sobre a legislação que impôs maior uniformidade cultural à então colónia do Brasil, proibindo a utilização do nheengatu, a língua geral  (uma mistura das línguas nativas com o português, falada por bandeirantes e índios) e tornando obrigatório o uso do idioma português.

Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), cujas emissões de 15 a 19/01/2024 têm como temas a interferência da língua árabe na língua portuguesa e a convivência desta com a língua polaca.

* Hora oficial de Portugal continental.

9. Por último, registe-se que o 27.º aniversário do Ciberdúvidas fica também marcado, até 15 de janeiro, por um passatempo para sorteio de quatro livros relacionados com a língua portuguesa (ver Instagram). Quanto à Dúvida do Ano, a escolha dos consulentes é revelada no próximo dia 15 de janeiro e aqui, na Abertura, de 16 de janeiro.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O início de 2024 traz consigo para Portugal uma descida das temperaturas mínimas e máximas, acompanhada de avisos amarelos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) relativos à previsão de tempo muito frio. Este contexto meteorológico leva a que constantemente se assinalem as temperaturas registadas em diferentes localidades do país, o que justifica uma nota relativa à forma de grafar os graus. Antes de mais, recorde-se que a unidade de medida usada é o «grau Celsius». O nome próprio Celsius teve origem no nome do astrónomo sueco Anders Celsius (1701-1744) e é também usado como adjetivo, pelo que alguns dicionários já o registam com minúscula. Note-se que se trata de uma palavra invariável que, portanto, tem a mesma forma para o masculino, feminino, singular e plural. Refira-se ainda que é possível escrever os graus na forma longa (por exemplo, «cinco graus Celsius») ou na forma abreviada (5 ºC). Relativamente a esta última possibilidade, recordemos que o símbolo que indica «graus Celsius» é grafado como ºC, forma que deve ser entendida como um símbolo único e inseparável, pelo que não deve existir espaço entre º e C (sempre em maiúscula) nem se deverá escrever *5º ou *5 C. Acresce ainda que entre o número e o símbolo deve ser deixado um espaço em branco. Assim, a forma correta será 5 ºC e não *5ºC.

Relativamente a este assunto, leia-se também «Grau centígrado, representação», «Graus centígrados vs. graus Celsius» e «Grau centigrado, novamente».

2. O substantivo publicidade deverá apenas descrever uma atividade ou poderá também referir alguns produtos dessa mesma atividade, como os cartazes ou os anúncios? A resposta a esta dúvida encontra-se na atualização do Consultório, onde poderão ainda ser consultados cinco novos textos relativos aos seguintes tópicos: «O verbo passar com predicativos», «Aspeto iterativo e aspeto imperfetivo», «O valor aspetual de tentar no mais-que-perfeito do indicativo», «Valores das orações conformativas» e «A tradução do espanhol uno em português». 

3. O português de Angola, nas perspetivas fonológica, sintática e lexicográfica, constitui o alvo essencial da obra organizada por Márcio UndoloAlexandre António Timbane e Gaudêncio Kimuenhe, uma publicação pioneira relativamente a esta variante do português, apresentada na Montra de Livros. 

4. O provérbio «Pedra movediça não cria bolor» integra a rubrica Dúvida da semana, num apontamento da professora Carla Marques, que esclarece sobre a possibilidade de interpretação contrastiva que a construção autoriza (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2). 

5.  A existência de uma língua lusitana, anterior à presença dos romanos na Península Ibérica e ao latim que estes trouxeram consigo, é tratada nesta reportagem, que também aborda aspetos históricos relativos a vestígios arqueológicos identificados na cidade de Viseu (um trabalho assinado por Gonçalo Pereira Rosa, publicado na edição portuguesa de janeiro de 2024 da revista National Geograhicpartilhado com a devida vénia).

(Imagem: Reprodução de inscrições lusitanas do Arroyo de la Luz (Cáceres, Espanha))

6. A importância da leitura na formação dos adolescentes e jovens e na sua preparação para compreender o mundo que os rodeia é defendida como elemento essencial a considerar no contexto de ensino, no artigo, aqui partilhado com a devida vénia, da autoria da professora e escritora Dora Gago

7. Em Portugal, a crise vivida na Global Media Group coloca em risco o futuro do jornalismo no país e envolve diretamente trabalhadores de alguns dos jornais portugueses mais antigos, como o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, e também da rádio TSF. Enquanto no decurso do dia 9 de janeiro são ouvidos na Assembleia da República o maior acionista (Marco Galinha) e o presidente executivo do grupo (José Paulo Fafe), é tempo de recordar que a palavra media, em português europeu, deve ser pronunciada como "média" e não à inglesa como "mídia". 

A este propósito, poderão ser consultados os textos «O virote com a palavra media», «Ainda à volta da palavra latina media», «O uso de "media(«meios de comunicação social»)» e «Novamente mídia, média e "media"».

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No regresso do Ciberdúvidas à atividade regular, depois da pausa do Natal, os neologismos são o tema principal da primeira atualização de 2024. Um vocábulo novo, formado no contexto de uma mesma língua, ou introduzido como estrangeirismo, isto é, como empréstimo de outra língua, pode ter vida efémera, ditada pela moda, ou uso escasso, limitado a temas especializados; mas um neologismo pode integrar-se e ter futuro. Vem, então, a propósito referir uma palavra em circulação na cobertura mediática da guerra na faixa de Gaza: trata-se de domicídio, adaptação do inglês domicide, «destruição deliberada programada de casas e lares», formado a partir de domestic («doméstico») ou domicile («domicílio») e -cide, elemento cognato do português -cídio, que veicula a noção de «assassínio» (ver Wiktionary em inglês). Constituído integralmente por material com origem no latim, o termo terá sido cunhado em 1998 pelo geógrafo anglo-canadiano J. Douglas Porteous, autor, com Sandra E. Smith, de um livro publicado em 2001 com o título Domicide: The Global Destruction of Home, isto é, numa tradução livre (e inquietante), o mesmo que «Domicídio: A Destruição Mundial da Casa». A palavra domicídio é, portanto, motivada por um composto inglês de etimologia latina, cujos formantes se transpõem em português sem dificuldade e com correção.

Cf. A dimensão da destruição na faixa de Gaza no fim de 2023 Destruição em Gaza faz especialistas pedirem que crime de «domicídio» seja criado + Relatores da ONU acusam Israel de «domicídio»

2. A palavra enantiossema existe em português? E que quererá dizer? A resposta sobre este termo neológico encontra-se no Consultório, onde se esclarecem outras cinco dúvidas: que diferença há entre «gostar da música popular» e «gostar de música  popular»? Uma locução é o mesmo que uma colocação? Que preposições podem associar-se ao adjetivo desconfiado? Como analisar sequências como «viúvo que foi» ou «acabado que foi o prazo»? Media-arte é palavra correta?

3. Na rubrica O Nosso Idioma, dois apontamentos ainda sobre casos de neologia:

– O empréstimo dorama é a denominação japonesa de um género televisivo que conquista público, a ponto de ter entrada no vocabulário da Academia Brasileira de Letras. A consultora Sara Mourato regista as primeiras manifestações do uso desta palavra em português.

– No contexto do lançamento de um novo livro da investigadora portuguesa Maria Filomena Mónica, o consultor Paulo J. S. Barata aborda um neologismo de há vinte anos, blogue, cujo radical estimulou a inventividade dos falantes, com o aparecimento de vocábulos como blogueiro e blogodesenvolvido.

4. Na rubrica A covid-19 na língua, assinala-se uma nova entrada: esplanadas-covid, relativa à remoção das muitas esplanadas que, em Lisboa, foram criadas para enfrentar a crise na restauração decorrente da pandemia.

5. Em 20 de dezembro de 1999, o território de Macau tornava-se a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) da República Popular da China. A professora universitária e linguista Margarita Correia evoca esta transição, considerando que, ao contrário do que seria de esperar, o português «floresceu em Macau», num artigo publicado no Diário de Notícias em 01/01/2024, transcrito aqui, com a devida vénia.

6. Faleceu, em Lisboa, em 4 de janeiro de 2024,  o cantor, compositor e poeta angolano Rui Mingas (Luanda, 1939), que ficou famoso por êxitos musicais como Os Meninos do Huambo. Além do desporto de competição (recordista dos 110 metros barreiras, em 1960, pelo Benfica de Lsboa), teve também importante ação política, assumindo funções como ministro do governo de Angola e como embaixador angolano em Portugal. Rui Mingas é também o autor da música do hino nacional de Angola, com letra do escritor Manuel Rui.

7. Outros registos da atualidade em Portugal com interesse para a língua portuguesa: a criação de um comissariado para as comemorações do 5.º centenário de Camões (Observatório da Língua Portuguesa, 30/12/2023); a escolha de professor como Palavra do Ano, passatempo da Porto Editora (Expresso, 03/01/2024); sobre a falta de professores, a estimativa da Federação Nacional de Professores, segundo a qual há, desde setembro de 2023, dois mil alunos sem um dos professores (Jornal de Notícias, 03/01/2024); e a aprovação pela Comissão dos Assuntos Constitucionais de diploma que permite nomes neutros no registo civil (Público, 03/01/2024).

8. Na passagem de 2023 para 2024, salienta-se:

– A publicação do número 60-61 da revista Palavras, da Associação de Professores de Português. Este número, coordenado pela linguista Carla Marques, que é também consultora permanente do Ciberdúvidas, reúne um conjunto de estudos de investigadores de Portugal e do Brasil sobre o ensino da oralidade na disciplina de Português, nos ensinos básico e secundário.

– O livro eletrónico O Galego e o Português: o Passado Presente (Parábola), volume organizado por Jussara Abraçado e Xoán Carlos Lagares, com a finalidade de aprofundar o estudo das relações históricas entre o galego e o português e promover interações na investigação de questões e fenómenos próprios do galego e de variedades do português.

9. A respeito de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica ao idioma comum:

– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 05/01/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), inclui-se uma entrevista com Cristina Martins, investigadora do CELGA-ILTEC, da Universidade de Coimbra, que discorre sobre um artigo que escreveu para a Revista da Associação Portuguesa de Linguística, intitulado, "O que ainda não sabemos e precisávamos de saber para o ensino de Português Língua Não Materna".

– Para refletir sobre os horóscopos enquanto género textual, Rute Rebouças, investigadora do Centro de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é a especialista convidada de Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 07/01/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 13/01/2024 às 15h30*). No programa inclui-se ainda um apontamento da professora Carla Marques sobre o sentido do provérbio «pedra movediça não cria bolor».

– Mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, cujas emissões de 8 a 12/01/2024 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h30*) são preenchidas com a discussão de palavras e expressões da linguagem das finanças públicas e da economia.

10. Por úlitmo, recorde-se que, até dia 10 de janeiro, o Ciberdúvidas lança aos seus leitores um desafio – a Dúvida do Ano. Qual lhe parece ser a dúvida (ou erro) mais frequente entre os falantes? Apresentamos dez possibilidades, entre as quais poderá selecionar aquela que julga ser a mais corrente – para participar, clicar aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Como foi assinalado na Abertura de 15/12/2023, o Consultório faz uma pausa no período de Natal, de 15/12/2023 a 02/01/2024, ficando inativo o formulário para o envio de dúvidas. As atualizações regulares são retomadas em 5 de janeiro, sexta-feira. Durante esta pausa, poderão ser postos em linha ou simplesmente divulgados com ligação direta à fonte novos conteúdos relacionados com a atualidade e a história da língua portuguesa, os quais são assinalados nos Destaques colocados logo abaixo deste espaço da Abertura. Mantém-se também aberto o acesso a todo o extenso arquivo do Ciberdúvidas – perto de 38 000 respostas no Consultório e mais de 12 000 artigos nas demais rubricas. A todos os nossos consulentes, votos de umas excelentes Festas!

Para outros assuntos, fora dos âmbitos gramatical e linguístico, ficam os contactos habituais aqui.

2. A Dúvida do Ano é o desafio que o Ciberdúvidas propõe aos seus consulentes na passagem de 2023 a 2024. Trata-se de um inquérito em formato digital – o acesso encontra-se aqui – , no qual se apresentam dez dúvidas recorrentes entre quantos procuram esclarecimentos sobre os usos corretos. Pede-se aos participantes que assinalem a dúvida ou erro que lhes pareça mais frequente entre os falantes. O inquérito é preenchido diretamente na página eletrónica criada para o efeito, que estará ativa até 4 de janeiro de 2024. Mais informação no mural do Ciberdúvidas no Facebook.

3. Entretanto, propõe-se aqui a leitura de um poema do poeta português Jorge de Sena (1919-1978), cujo título, embora referindo um Natal com mais de meio século, não perdeu atualidade:

 

NATAL DE 1971
 
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?
 
Pode também ouvir-se este poema na voz da atriz portuguesa Márcia Breia (fonte: Arquivos RTP).
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O acordo alcançado na cimeira da ONU sobre as alterações climáticas (COP28), que terminou no Dubai em 12/12/2023, suscita reações divergentes, enquanto aumenta o aquecimento global e se fala de 2023 como o ano mais quente de sempre. Acrescem os conflitos armados, o mais trágico dos quais em Gaza, donde vêm notícias e imagens apocalípticas, a ponto de apocalíptico se tornar a palavra mais pesquisada em 2023 no dicionário eletrónico Priberam (ver Notícias). Cabe, portanto, assinalar que apocalíptico é adaptação do grego apokaluptikós («que revela, que descobre»), adjetivo derivado do vocábulo apokalúpsis («ato de descobrir, descoberta; revelação»), por sua vez formado do verbo apokalúptō («desmascarar, forçar a falar; revelar») e transmitido ao português e outras língua modernas por via do latim tardio apocalypsis (cf. Dicionário Houaiss). Em português, o uso de apocalipse, que pode ser sinónimo de catástrofe, já vem da Idade Média e tem enorme significado religioso, porque, no Novo Testamento, dá nome ao último livro, o que contém revelações e visões sobre o fim do mundo. Quanto à sua autoria, o Apocalipse terá sido escrito pelo apóstolo e evangelista João na ilha grega de Patmos – local que também foi notícia em 2023 a propósito do drama dos imigrantes e refugiados que arriscam a vida a atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa.

Na imagem, "A mulher no Sol e o dragão" (fól. 153v), ilustração do Apocalipse de Lorvão, códice de 1189, que se encontra no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa (digitalização e outra informação disponíveis aqui). O Apocalipse de Lorvão é um pergaminho com 223 folhas que pertenceu ao mosteiro de S. Mamede de Lorvão, de onde foi trazido para a Torre do Tombo por Alexandre Herculano (1810-1877). O seu conteúdo baseia-se no comentário do Beato de Liébana, do séc. VIII.

2. Pode lamentar-se a falta de interesse dos editores anglo-saxões pelas literaturas em português, mas noutros universos linguísticos constatam-se grande atenção e muitas traduções. É o caso da popularidade da obra de José Saramago em turco, conforme o testemunho de Jessica Mendes na rubrica Literatura.

3. Intensifica-se o debate sobre o futuro da unidade da língua portuguesa face a tendências centrífugas cada vez mais fortes. O português do Brasil tem tradição normativa própria e impõe-se pela demografia; por seu lado, Angola apropria-se cada vez mais do idioma, mas confere-lhe características próprias. Entretanto, em Portugal, a língua não estagnou, muito pelo contrário, adquirindo traços inconfundíveis, como se mostra Vítor Barros em Gramática do Português Europeu, um livro publicado pelas Edições Colibri e agora apresentado em Montra de Livros.

A consideração de diferentes normas para o português convoca o conceito de «língua pluricêntrica», acerca do qual se pode consultar "A gramática e o conceito de língua pluricêntrica", "Como se ensina uma língua pluricêntrica?"  e "Para uma língua efetivamente pluricêntrica".

4. Já aqui foi comentada a frase de efeito cómico «fi-lo porque qui-lo» (ou melhor, de forma mais correta, «fi-lo porque o quis»), que tem sido atribuída ao presidente brasileiro Jânio Quadros (1917-1992). No Consultório, explica-se a forma qui-lo, entre outros tópicos, num total de nove respostas nesta atualização: a concordância em «Roma e Pavia não se fizeram num dia»; o significado do verbo ocorrer; a expressão «de presente»; a construção de uma enumeração por um polissíndeto; a diferença entre «para eleger» e «por eleger»; o fecho de uma carta formal; o pronome aquilo seguido de construção relativa; e o uso nominal de exposto.

5. Nas Controvérsias, inclui-se um apontamento do meteorologista Manuel Costa Alves, sobre o sentido implicitamente inclusivo de saudações como «bom dia», «boa tarde» e «boa noite».

6. Registos da atualidade com incidência em temas da língua portuguesa:

– a realização em 15/12/2023, a partir da Universidade de Évora, do VIII Congresso Internacional História e Língua: Interfaces, subordinado ao tema "O  Português como Língua Pluricêntrica" (evento em linha);

– o comunicado da Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona, no Porto, no qual se apresentam resultados preliminares de um estudo que revelam que 53% dos universitários recorre a Inteligência Artificial para estudar e realizar trabalhos (ver Jornal de Notícias, 14/12/2023).

7. A respeito de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica ao idioma comum:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 15/12/2023, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), conversa-se com Márcio Undolo, professor associado do departamento de Ensino da Língua Portuguesa do Instituto Superior de Ciências da Educação de Benguela (Angola), sobre a recente publicação do livro eletrónico Português de Angola: fonologia, sintaxe e lexicografia.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 17/12/2023, 12h30*; repetido em 23/12/2023, 15h30*), entrevista-se a linguista e professora universitária Esperança Cardeira (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) a respeito da sua mais recente obra, Gramática Histórica do Português Europeu, editada no Brasil.

– Mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, cujas emissões de 18 a 22/12/ 2023 (de segunda a sexta-feira, às 09h50 e às 18h30) tem por mote os termos empregados na gastronomia e na restauração.

8. Por último, informa-se que o Consultório estará encerrado no período de Natal,  de 15/12/2023 a 02/01/2024, ficando inativo o formulário para o envio de dúvidas. As atualizações regulares são retomadas em 5 de janeiro, sexta-feira. Durante esta pausa, poderão ser divulgados novos conteúdos relacionados com a atualidade e a história da língua portuguesa. Mantém-se também aberto o acesso a todo o extenso arquivo do Ciberdúvidas – perto de 38 000 respostas no Consultório e mais de 12 000 artigos nas demais rubricas. A todos os nossos consulentes, votos de umas excelentes Festas!

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, a palavra escrutínio tem surgido com alguma frequência no discurso político associado ao momento de crise que emergiu em várias frentes. Diferentes intervenientes na cena política têm vindo a público defender um escrutínio sobre as instituições, no âmbito tanto das investigações promovidas pelo Ministério Público, que levaram à queda do governo, como do chamado «caso das gémeas», que poderá ter beneficiado de influência política. O termo escrutínio é também mobilizado no contexto de eleições e, no caso português, será usado com bastante frequência em 2024 atendendo a que num mesmo ano ocorrerão eleições legislativas antecipadas nos Açoresem Portugal e ainda eleições europeias. Escrutínio é, assim, um substantivo com uma diversidade de possibilidades significativas: de «votação por meio de boletins que se depositam numa urna» a «apuramento ou contagem dos votos entrados em urna» ou ainda «exame minucioso». Este último significado parece ser o mais próximo do valor originário da palavra, que, etimologicamente, vem do latim scrūtĭnĭum, ii, palavra que significava «ação de sondar, ato de pesquisar» e que tem como base scrūta, ōrum, cujo significado refere «roupas velhas, ferros velhos ou outros objetos de pouco valor». Da mesma família, são as palavras escrutinar, escrutar («sondar, remexer») e também esquadrinhar («buscar com cuidado e diligência»). Ao âmbito lexical pertencem também as duas novas entradas em A covid-19 na LínguaJN.1Pirola, que designam a nova sublinhagem do coronavírus que domina no hemisfério Norte.

2. A atualização do Consultório integra esclarecimentos a várias dúvidas recebidas pela equipa. Entre elas encontra-se a questão da natureza da partícula -se nos verbos desmoronar-se e estender-se, a construção do verbo terminar equivalente a «acabar por», a troca da terminação -am por -em, as expressões «ao largo de» e «ao longo de» e a possível diferença entre lides e lida. Por fim, trata-se a questão da abordagem didática relacionada com o uso excessivo do verbo falar, no sentido da promoção da diversidade lexical e apresentam-se formulações para indicar o destinatário no cabeçalho de uma carta formal.

3. É frequente ouvir-se a construção «*os livros que mais gostei», a qual é incorreta por não incluir a preposição de antes do pronome relativo, tal como explica a professora Carla Marques neste apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2. 

4. Na Montra de Livros são apresentadas duas publicações: a obra Da didática de língua(s) ao seu ensino (Pontes Editores), organizada por Luciana GraçaMatilde GonçalvesLuzia Bueno e Eliane Lousada, que compila um conjunto de estudos de homenagem ao professor Joaquim Dolz, docente na Universidade de Genebra, e a obra Ensinar Português Língua de Herança como Língua Pluricêntricaorganizada por Isabel DuarteMaria de Lurdes Gonçalves e Sónia Rita Melo, onde se pode conhecer um conjunto de propostas didáticas relacionadas com o ensino do português, tendo em consideração o seu pluricentrismo.

5. Os resultados do Relatório Pisa, divulgados na semana passada, desencadearam a discussão sobre o estado do ensino e das aprendizagens em Portugal. A professora universitária e linguista Margarita Correia aborda este assunto na perspetiva dos seus resultados internacionais, num artigo aqui partilhado com a devida vénia.

Cf. Porque pioram os alunos?

6. As subtilezas do domínio de expressões alusivas a referentes masculinos nos textos de natureza jurídica dão matéria à reflexão apresentada pela professora universitária Inês Espinhaço Gomes, na qual defende a importância da seleção das palavras (texto publicado no jornal Público e aqui partilhado com a devida vénia).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A atualidade internacional volta a ficar marcada pela guerra em Gaza e na Ucrânia, pela crise climática e pelo decionante impasse na COP28, no Dubai, entre muitos outros focos de tensão e conflito. No mundo de língua portuguesa, as notícias dão igualmente conta de alguma agitação, pelo menos, mais declarada na Guiné-Bissau, onde o parlamento foi dissolvido, ou em Portugal, com o chamado «caso das gémas». Bem mais pacífica e estimulante é com certeza uma novidade vinda de Angola: a publicação do livro Português de Angola: Fonologia, Sintaxe e Lexicografia, uma obra coordenada por três linguistas – dois angolanos, Márcio Undolo e Gaudêncio Kimuenho, e o moçambicano Alexandre António Timbane. Trata-se de um trabalho que visa dar contributos para a elaboração da norma do português angolano, conforme se regista nas Notícias.

Na imagem, as quedas-d'água de Calandula, na província de  Malanje, em Angola (fonte: "Quedas de Calandula", Wikipédia, consultada em 05/12/2023).

2. O que se faz e não faz pela inclusão e pela linguagem que a promove continua a dar abundante matéria de reflexão. Na rubrica O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama mostra como  as questões de género e identidade geram um debate não despiciendo – adjetivo que ganhou relevo mediático em Portugal e que é comentado pela professora Carla Marques na mesma rubrica.

3. Quando se conjuga o verbo sair no presente do indicativo, como se escreve a forma da 3.ª pessoa do plural (eles, elas)? "Saiem"? No Pelourinho, a consultora Sara Mourato recorda que a grafia correta é saem, corrigindo o que se escreveu numa notícia sobre uma plataforma de encontros.

4. Quando o nome resto ocorre, por exemplo, em expressões como «o resto», não estaremos a usar um pronome indefinido? A resposta faz parte do conjunto de nove respostas que atualizam o Consultório e abordam outros tópicos: o gentílico de Bereia, o nome Via Sacra, a relação das conjunções com os modos verbais, um caso de oração subordinada comparativa, dois verbos homónimos (decorar), o verbo sentir seguido de oração adverbial, o superlativo relativo e o termo primitivabilidade.

5. Os jovens portugueses parecem perder as denominações de relações de família e parentescos menos próximos, como sejam, bisavó, tio-avô ou genro. Nada de comparável entre os falantes de mandarim, que memorizam um sistema de termos de parentesco muito complexo – revela a professora Dora Gago nas Diversidades, em crónica transcrita, com a devida vénia, da revista digital Algarve Informativo.

6. Na rubrica Ensino, inclui-se um comentário dos investigadores brasileiros Henrique BragaMarcelo Módolo incluído no Jornal da USP, acerca dos critérios de correção (no Brasil, gabarito) da prova de Linguagens do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

7. O "brasileiro" já não faz parte da língua portuguesa? Nas Controvérsias, o gramático brasileiro Fernando Pestana contesta a ideia de «língua brasileira», defendendo a unidade do idioma, que permite a qualquer aprendente estrangeiro comunicar tanto no Brasil como em Cabo Verde, Portugal, Angola, Moçambique, Timor-Leste ou mesmo na Guiné-Bissau.

8. À medida que 2023 se aproxima do fim, aparecem os já tradicionais passatempos da «Palavra do Ano». É o caso da votação organizada pela Porto Editora, que apresentou a seguinte lista, a traduzir bem as preocupações sociais e políticas dos últimos meses em Portugal: clima, conflitos, demissão, habitação, inflação, inteligência artificial, jornada, médico, navegadoras, professor. É de lembrar que, em 2022, guerra foi a palavra escolhida pelos participantes na escolha promovida pela Porto Editora.

 Acrescente-se que, para o inglês, a Oxford University Press (OUP), a segunda editora mais antiga do mundo, já anunciou a palavra do ano: rizz , nome do registo coloquial, que significa «estilo, charme ou atratividade; a capacidade de atrair um parceiro romântico ou sexual» (cf. jornal digital brasileiro Nexo e, em inglês, página da OUP).

9. Da atividade académica relacionada com a língua portuguesa, destacam-se:

– o anúncio da 1.ª chamada de trabalhos da conferência "De cada língua se constrói o futuro – a voz da sustentabilidade no ensino e aprendizagem das línguas", promovida pelo Centro de Línguas e Cultura (CLiC) do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL);

– a ação de curta duração "Ensino e aprendizagem do PLNM: estratégias e recursos", também do do CLiC do IPL, em parceria com a Escola Superior de Educação de Lisboa.

10. Devido ao feriado religioso de 8 de dezembro, celebrado em Portugal como noutros países, a próxima atualização do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa fica marcada para 12 de dezembro. Sobre o significado também histórico-político da data de 8 de dezembro, ler a Abertura de 27/11/2020.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O conflito israelo-palestiniano vive uma fase de interrupção dos confrontos bélicos que tem permitido a troca de reféns detidos pelo Hamas por prisioneiros palestinianos detidos em prisões israelitas. Esta pausa facilitou a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Mal o acordo foi tornado público, alguma comunicação social anunciou pedidos de «trégua permanente» ou de «trégua duradoura». Estas são expressões que não se ajustam à situação que se pretende descrever, pois encerram termos antitéticos. Com efeito, trégua significa «cessação temporária de hostilidades entre beligerantes» (Priberam), o que contrasta com a noção de permanente, que descreve algo «duradouro, ininterrupto», ou de duradouro, pelas mesmas razões. São, portanto, termos que se excluem: uma situação será ou transitória ou permanente. Para referir de forma mais ajustada aquilo que efetivamente é pedido será preferível recorrer a expressões como «cessar-fogo permanente», «fim nos combates» ou, não sendo possível uma situação definitiva, «prolongamento das tréguas». Acrescente-se ainda que a expressão «tréguas temporárias» também não é ajustada por ser redundante, visto que a palavra trégua já encerra a ideia de algo momentâneo.

2. «Andar à guna» é uma expressão pertencente ao registo familiar ou a um determinado tipo de gíria. É usada sobretudo na região norte, na zona do grande Porto. A consultora Inês Gama descreve o seu significado e a sua origem no apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.  

3. A construção «dar ghosting» tem registos frequentes entre as gerações mais jovens. A consultora Sara Mourato explica como se formou, abordando a sua origem a partir do inglês, e esclarece os contextos de uso, num apontamento disponível na rubrica O Nosso Idioma.

4.  A presença ou ausência do artigo definido junto de um substantivo pode implicar diferenças no sentido veiculado pelos sintagmas nominais, tal como se esclarece numa das respostas incluídas na atualização do Consultório. Nesta secção podem também ser consultadas as seguintes perguntas e respetivas respostas: «A origem de Donim (Guimarães)», «A origem de Fão (Esposende, Braga)», «O significado de ressecar», «Concordância do possessivo: «as vossas esperanças e desejos»», «O nome gaultéria», «O verbo cair com modificador», «A frase "que tenha um bom dia"» e «O adjetivo influencial».

 5. O treinador do Benfica Roger Schmidt irritou-se com os jornalistas por estes lhe terem colocado questões em português, não tendo ido a uma conferência de imprensa após um jogo. Este é um episódio que motiva o apontamento disponível no Pelourinho, da autoria de José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. 

6. A confusão entre pisteiro e pistoleiro deu azo a um título equívoco num jornal televisivo, o que merece a correção e o esclarecimento de Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. 

7. Paulo J. S. Barata, consultor do Ciberdúvidas, dá conta do uso da expressão «vai na fé», que é usada como a verbalização de um ato de confiança. 

8. Uma discussão em torno dos substantivos incluídos na expressão «velho e relho» levam o jornalista e escritor Carlos Coutinho em busca de esclarecimentos relacionados com o significado destes termos.  

9. Entre os eventos de relevo para a língua damos destaque aos seguintes:

– Lançamento do Dicionário de Abreviaturas Digitais, coordenado por Raquel Amaro e disponível em linha;

– O Congresso Internacional Em Português – falar, viver, e pensar no século XXI, organizado pela Universidade Católica Portuguesa e ainda em decurso (presencial e online).

 

*Informamos os nossos leitores e consulentes que na próxima sexta-feira, 1 de dezembro, não haverá abertura do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa por ser dia feriado. A próxima atualização terá lugar em 5 de dezembro, terça-feira.