Louvei-lhe a atitude assim que li a notícia. A notícia dizia que o Dr. Reginaldo de Castro, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, não discursou perante os maiorais das organizações de advogados do mundo inteiro, reunidos no Palácio da Justiça, porque (conforme explicou ao auditório, num bom Francês) os promotores da grande reunião, faltando ao combinado, deixaram de criar as condições (tradução simultânea) para que sua manifestação se efetivasse em Português.
Como o evento se destinava à comemoração do 50.º. aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o goiano de boa cepa lamentou o fato, mas não perdeu a oportunidade de ensinar que o primeiro dos direitos dos povos é o de se expressarem livremente no seu próprio idioma.
Também me deu prazer a leitura de um pronunciamento do senador Ronaldo Cunha Lima, em que ele discorre, com inteligência, ironia e graça, sobre a quantidade de vocábulos importados (mormente dos Estados Unidos) que os brasileiros estão empregando para conversar ou definir situações e coisas do seu dia-a-dia.
É, de fato, uma barbaridade! O ilustre parlamentar nos conta: "Fui ao freezer, abri uma diet e saí cantarolando um jingle, enquanto ligava meu disc player para ouvir uma música new age.
Precisava de um relax. Meu check-up indicava stress. Dei um time e fui ler um best-seller no living do meu flat. Desci ao play-ground depois de fazer meu cooper. Na rua, vi novos outdoors e revi velhos amigos do footing. Um deles comunicou-me a aquisição de uma nova maison, com quatro suites e até convidou-me para o open house. Marcamos inclusive um happy hour. Tomaríamos um drink, um scotch, de preferência on the rocks. O barman, muito chic, parecia um lord inglês"...
E por aí vai, longe e acertadamente.
Lembro, a propósito, que meus inesquecíveis professores de Português (José Jaime, no Ginásio Anchieta, de Silvânia e Eugênio Rubião, no Colégio Arnaldo, de Belo Horizonte) consideravam grave erro o uso dum estrangeirismo, mesmo que o termo, de origem peregrina, já estivesse aclimatado no vocabulário brasileiro. Ir à matinée ou divertir-se numa soirée era crime hediondo contra a Gramática Expositiva de Eduardo Carlos Pereira...
A linguagem isenta de vícios se chamava escorreita. E o aluno, que a cultivava, recebia o nome de purista, que honra!
É claro que a aldeia global não aceita mais esse exagero. A comunicação moderna requer eficiência e esta qualidade reclama palavras adequadas, venham elas do Inglês ou do Sânscrito.
Cumpre não esquecer, todavia, que é em Português que o Brasil, a oitava economia do mundo, se exprime. Mais de 200 milhões de pessoas o utilizam; com José Saramago alcançou o prêmio Nobel.
Ainda subestimado, até por gente que o aprendeu no berço, o Português, filho do Latim, talvez não possua aquela audácia lusitana que venceu os mares nunca dantes navegados.
No entanto, a indígena Pindorama, descoberta por Cabral, contava com uma população estimada em 3 milhões de habitantes, que falava dialetos vários. Todos foram sobrepujados pelo idioma dos descobridores, embora estes formassem um grupo bastante reduzido.
É por tudo isso que ora repito meus aplausos ao Dr. Reginaldo Oscar de Castro, bâtonnier, digo, presidente do Conselho Federal da nossa OAB, e novamente bato palmas para o nobre paraibano pela sua performance, isto é, seu enaltecido desempenho na tribuna do Senado.
* Texto publicado no jornal «O Popular», do Estado de Goiás, Brasil, em 20/5/1999