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Em defesa do português

Está havendo uma agradável polémica na imprensa brasileira sobre a maneira correcta de escrever o nome das equipas italianas, se na forma masculina ou feminina. A Juventus ou o Juventus? Para vocês sentirem o calor dessa pendenga vou transcrever um pequeno trecho de uma crónica, assinada por Fernando Calazans, que tem tudo a ver com o que também se passa aqui sobre o mesmo assunto. Atenção, que lá vai prosa:

"...Estou escrevendo a Fiorentina, da Fiorentina, e daqui a pouco Ruy Castro (autor do livro sobre Garrincha) me envia uma carta, como fez para Armando Nogueira reclamando, não do Armando, da imprensa brasileira que escreve e fala da Juventus, a Roma, a Lázio, a Internazionale, tudo no feminino.

Ruy Castro diz que é coisa provinciana essa imitação da imprensa italiana, Armando concorda com ele - e eu vou logo dizendo que concordo com os dois. Até acrescentaria que é subdesenvolvimento mesmo. 

Mania de ser macaquinho de imitação do Primeiro Mundo (pois os treinadores brasileiros não vivem a copiar tácticas e esquemas europeus, como se fossem eles os tetracampeões do Mundo?).

Apesar da existência italiana, imagino que nós, brasileiros, ainda escrevemos em português, pois não?

Meus companheiros da editoria de esportes usam critério respeitabilíssimo. Tratam todos os clubes italianos no masculino - menos a Fiorentina. Porque também tem o seguinte: no Brasil, não dizemos o Portuguesa de Desportos. Mas dizemos o Palmeiras (apesar de ser a Sociedade Esportiva Palmeiras), dizemos o Internacional, o Vasco, e até, é claro, o América. E, por isso, escrevemos, no Globo, o Milan, o Juventus, o Internazionale, o Lázio etc. Clube (ou time), para nós, brasileiros, sempre foi no masculino. Não importa o que é para os italianos. Vocês sabem de uma coisa mais feia do que a Inter, a Juventus? Chegam ao ponto de dizer e escrever a Juve. Isso é que é se curvar à cultura italiana. Será que não temos a nossa própria cultura? 

Nem no futebol?

Nelson Rodrigues dizia que o subdesenvolvimento não se forma em anos, 20 ou 30 anos. É coisa de séculos.

Eu diria que, para erradicar, então nem se fala." Fim de citação.

Eu concordo com o Calazans, com o Ruy Castro e Armando Nogueira.

Fonte

* Crónica publicada no diário desportivo português "A Bola", no passado dia 28 de Fevereiro

Sobre o autor

Duda Guennes (1937 - 2011), foi um jornalista brasileiro que se radicou em Portugal, colunista de A Bola e autor do livro Meu Brasil Brasileiro.