Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

«Alguns destes palcos persistiam até agora e as pessoas capazes de abandonar o que quer que seja para se entregarem à jihad atingem hoje dezenas de milhar, rumando à Síria e ao Iraque».

Expresso, Primeiro Caderno, 9 de agosto de 2014, p. 38.

«A exposição do BCP-Millennium à divida grega é de 700 milhões [de euros], menos de 1 por cento dos seus activos, que são 100 biliões. (…) Comparados com os 140 biliões de divida grega que tem o BCE e, até, os 60 biliões detidos pelos bancos alemães…»

Carlos Santos Ferreira, presidente do BCP-Millennium, TVI, 19/06/2011

Além da Serenella Andrade, o que há de estranho na extracção da lotaria? Resposta: a patusca invenção das "dezenas de milhar", apensa a uma das redomas do sorteio. Apesar de a ninguém lembrar dizer "dúzias de ovo" ou "centenas de ano", a coisa anda por todo o lado: em acórdãos de tribunais, documentos de universidades, discursos presidenciais, entradas da Wikipedia, etc. E neste «etc.» até cabem blogues por norma bem-falantes. Ele há epidemias bem esquisitas.

Se dizemos dezenas de mortos (ou de vivos, ou de feridos, ou de deslocados, ou de qualquer outra unidade, do que quer que seja), por que razão se há-de enunciar o milhar só no singular, quando o milhar tem plural? Dezenas de "milhar" de mortos em vez de milhares, porquê? O numeral cardinal milhar não funciona, aqui, como adjectivo (tal como em milhares de outras frases de semelhante analogia, fale-se de pessoas, de laranjas ou de carneiros)?