Esta distinção integra-se na teoria da polifonia. (Ver também Anscombre, J.-C.; Ducrot, O. 1983 – L’Argumentation dans la Langue, Bruxelas, Mardaga; Ducrot, O. 1980 – Les Mots du Discours, Paris, Minuit: 7-56.
Ducrot faz a apropriação para a lingu[ü]ística dos trabalhos de Bakhtine sobre a literatura e o estudo do texto em geral. Tal como Bakhtine, Ducrot questiona o postulado da unicidade do sujeito, segundo a qual a entidade, referenciada na frase pelas marcas de 1.ª pessoa, é a responsável pelas a(c)ções físicas e psicológicas produzidas no enunciado.
Assim, Ducrot considera três entidades:
– sujeito falante: “indivíduo do mundo” que pronuncia o enunciado;
– locutor: entidade abstra(c)ta responsável pela enunciação; tem como correspondente o alocutário, aquele ao qual se dirige a enunciação;
– enunciador: responsável pelos a(c)tos ilocutórios cumpridos na enunciação; tem como correspondente o destinatário.
Ex.:
– Está frio aqui.
Sujeito falante: aquele que pronuncia a frase «Está frio aqui».
Locutor: entidade à qual é atribuído o enunciado «Está frio aqui».
Enunciador: responsável pelo a(c)to dire(c)tivo não impositivo: «Fecha a janela.»
Esta tripartição revelou-se um instrumento indispensável na descrição da negação polé[ê]mica, da ironia e do discurso reportado.
Ver análises em: http://www.prof2000.pt/users/anamartins/ArtigoJF.html