A noção tradicional de palavra primitiva não anda muito clara entre os nossos consulentes. Faz sentido falar em palavra primitiva se estivermos a falar de uma unidade lexical que está na base de outras que dela são derivadas ou com ela se compõem. Isto é um processo produtivo da língua, quer dizer que existe num dado momento da evolução da língua se os falantes tiverem a noção de que é possível fazer a análise de uma palavra derivada distinguindo uma base, por um lado, e um prefixo ou um sufixo, por outro (felizmente = feliz + mente).
Outra coisa é encontrar raízes e radicais que participaram na formação histórica da palavra. Por exemplo, cantilena poderia ter como palavra primitiva canto, mas na realidade tudo indica que seja a evolução do latim cantilēna; esta palavra seria um derivado regressivo do verbo cantilāre, "cantarolar". O mesmo se passa com portuguesas, feminino plural de português, que não deriva directamente de porto, mas do latim medieval portucalense, talvez desde cedo pronunciado como "portugalense" ou até como "portugaese"; este substantivo e adjctivo derivava da evolução de um composto latino — Portu Cales — que era o nome do Porto e da região circundante (ver Dicionário Houaiss).
Em suma, usa-se palavra primitiva na análise morfológica que diz respeito a uma dada fase de funcionamento da língua — normalmente, a actual; trata-se, portanto de uma análise sincrónica. Contudo, não se emprega este termo, quando estamos a analisar as raízes e os radicais que participam na formação e na evolução histórica de uma palavra.