A professora fez apenas um jogo com as palavras amor (sentimento) e amora (fruto). Quanto a mim, o jogo está bem conseguido: parece à primeira vista criar o feminino de amor, que, realmente, não existe; mas, depois, porque explora as possibilidades de criar palavras, permite-nos descobrir que amor até se pode relacionar poeticamente com a palavra amora (com ó aberto), que é um simples fruto silvestre, pequenino e muito saboroso. Até há canções populares que associam a amora ao Verão, que, antigamente, no meio rural, era tempo de trabalho mas também de festas e namoricos. No fundo, a professora quer dizer carinhosamente qualquer coisa como «meus amores e meus doces...», fazendo substituir a metáfora «doce» por outra metáfora, construída com a palavra amora.
Peço, portanto, à consulente que não se alarme: o edifício gramatical não vai desabar; é só um jogo de palavras, e não há nenhuma confusão. Pelo contrário, receber um texto assim escrito é estimulante porque, além de imaginativo, é extremamente afectuoso. Que sorte a desses alunos receberem um texto endereçado assim! O que é preciso é brincar com a linguagem e deixar que as crianças participem no jogo — porque com doce de amoras tudo se percebe...