Apesar de falar não ter associado um complemento direto, é possível empregar o verbo na passiva e dizer «o assunto foi muito falado», no sentido de «o assunto foi muito discutido».

Na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 435), organizada por Raposo et alii, pode ler-se o seguinte (negrito nosso):

«[S]ó podem ocorrer em orações passivas verbos de dois ou três lugares em que o argumento que se realiza como sujeito tem o estatuto de argumento interno direto na entrada lexical do verbo [...]; em [1] ocorre um verbo que seleciona não um argumento interno direto, mas sim um argumento interno preposicionado, como se verifica [na oração ativa correspondente, à direita do exemplo]:

[1]*A conferência foi assistida pelos doutorandos (vs. os doutorandos assistiram à conferência).

Contam-se como exceções a esta generalização os verbos apelar, obedecer, pagar, perdoar e responder, como exemplificado em [2]: 

[2] Os pedidos de isenção não foram respondidos a tempo pelos serviços. (cf. os serviços não responderam a tempo aos pedidos de isenção).»

 Ainda relativamente ao verbo responder pode ler-se na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, que, na aceção de “dar resposta”, “dizer ou escrever em resposta”, admite construções com objeto direto para exprimir a resposta, o que legitima o uso na passiva (exemplos da fonte consultada): «O homem respondeu qualquer coisa de ininteligível» (José Rodrigues Miguéis, Gente de Terceira Classe, Lisboa, Estúdios Cor, 1971, p. 106, ibidem); «... um violento panfleto contra o Brail que foi vitoriosamente respondido por De Ângelis» (Eduardo Prado, A Ilusão Americana, São Paulo, Escola Typ. Salesiana, 1902, p. 145).

 Embora não se registem dados concretos sobre a utilização do verbo falar nas fontes consultadas, a expressão «um assunto muito falado» pode ser aceitável se o verbo falar tiver o sentido semântico de «discutir» ou «abordar». Além disso, verifica-se a tendência para usar este verbo como transitivo, podendo assim legitimar a voz passiva; com efeito, na Gramática do Português organizada por Raposo et alii pode ler-se: «Veja-se, por exemplo, o uso do verbo falar no PB, semelhante a dizer no PE, com um complemento direto lexicalmente realizado; cf. não fales essas coisas (para a/à) tua mãe.»