Os dicionários registam efetivamente as duas formas, mas a questão não parece relacionar-se com as diferenças entre o português de Portugal e o português do Brasil.
Com efeito, dicionários portugueses e brasileiros (cf., do lado português, Artur Bivar, Dicionário Geral e Analógico, Porto, Edições Ouro, 1952, e Dicionário Priberam da Língua Portuguesa; do lado brasileiro, Aurélio XXI e Dicionário Houaiss) registam mantedor, que deriva regularmente de manter, mas remetem-no para mantenedor, historicamente um empréstimo do espanhol usado nas seguintes aceções (Priberam): como substantivo, «1. Aquele que mantém ou sustenta. 2. Defensor. 3. Campeão. 4. [Antigo] Cavaleiro principal nos torneios; como adjetivo, «5. Que sustenta, mantém, defende ou protege.»
Cremos que, na aceção de «aquele que mantém», é legítimo usar a forma vernácula mantedor, embora no sentido específico de «cavaleiro principal em torneio ou justa» convenha manter a forma mantenedor. À semelhança de outros castelhanismos entrados no português nos séculos XVI e XVII – por exemplo, cavalheiro, do espanhol caballero, na origem com o mesmo significado de cavaleiro, mas depois especializado no sentido de «homem, de extração ou caráter nobres» –, também perdurou com um significado mais específico que mantedor (o Dicionário Houaiss data a forma mantenedor de 1563).
Refira-se, porém, que no século XIX e no princípio do século XX se encontram ocorrências de mantenedor às quais se associa o significado de «aquele que mantém» – tanto em escritores portugueses como em brasileiros:
(i) «afiancei porém, sob minha palavra de honra, que não era exacta a interpretação que lhe davam; e meu pai, que acabava de se apregoar respeitador e mantenedor da boa fama do nome Whitestone, foi o primeiro a manchá-lo, duvidando de uma palavra de honra firmada com ele» (Júlio Dinis, Uma Família Inglesa, 1868, in Corpus do Português).
(ii) «Mas, como ia mais para lá do que para cá, tem-te não caias, desconfiaram do mantenedor da ordem, e levado à delegacia do distrito apurou-se que era um ébrio muito conhecido na zona» (Emílio de Menezes, Prosa de Circunstância, 1911, in Corpus do Português).