Já aqui temos relevado o facto de a aquisição multilingue na infância ser uma benesse. Mas nada melhor do que deixar um testemunho. E se esse testemunho for de George Steiner, tanto melhor:
«Aprendi italiano depois do inglês, do francês e do alemão, as minhas três línguas de infância. A minha mãe começava uma frase num idioma e acabava-a noutro, sem reparar. Não tive língua materna, mas, ao contrário do que se diz, isso é bastante comum. Na Suécia, fala-se finlandês e sueco; na Malásia, falam três línguas. Essa ideia de uma língua materna é uma ideia muito nacionalista e romântica.»
O termo confortabilidade existe? Perguntas com este formato são típicas no consultório. Para este tipo de pergunta, os nossos consultores têm uma metodologia de abordagem de resposta. Em face de «a palavra X existe?» (sendo X, em geral, uma palavra derivada ou composta) há três caminhos: (i) ver se já não existe uma palavra complexa (derivada ou composta) que cumpra a mesma função de X; (ii) ver se a palavra X já está atestada em algum dicionário (consultando-se sobretudo as edições mais recentes); e, no caso de esta atestação não se verificar, (iii) ponderar a plausibilidade da futura entrada de X para o léxico do português.
Vem a este propósito a sugestão de leitura de Consultas de tradução no Ciberdúvidas: norma, sensibilidade e informação lexicográfica (resumo da comunicação com o mesmo título apresentada no XII Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa - 2009. "Criatividade e Inovação: O Futuro da Tradução", Lisboa, Instituto Franco-Português, 16 de novembro de 2009).