O nosso idioma - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de investigação/reflexão sobre língua portuguesa.
O doce descobiçar
Um derivado sufiixal que promete certo alívio

«Descobiçar é gozar o alívio de não ter de ir àquele restaurante; o tempo que se ganha em não visitar aquela cidade horrível, muito na moda; o descanso que advém de não vestir aquele casaco; a paz de alma que nasce de continuar a não conhecer aquela pessoa.» Afirma o escritor Miguel Esteves Cardoso numa crónica acerca da descoberta que é sentir-se indiferente aos apelos do consumismo, ao mesmo tempo que explora novos contextos para verbos como folhear, apontar e coçar. Texto publicado em 14 de dezembro de 2021, no jornal Público.

“Jajar” é resistir
O advérbio na resposta a ordens

«O “jajar” é uma das grandes armas da nossa cultura. Ao “jajarmos”, fazemos com que o mandador pareça impaciente, tirânico, caprichoso e surdo.» Crónica da edição de 5 de dezembro de 2021 do jornal Público e assinada pelo escritor Miguel Esteves Cardoso, que, a propósito do uso do advérbio como resposta a ordens («já vou», «já ouvi», «já faço»), cria o verbo "jajar", um neologismo para denotar a atitude de quem acata uma ordem sem pressa e com má vontade. Mantém-se a ortografia de 1945 em que está escrito o original.

 

Docuficção, um neologismo cinéfilo
Em destaque na 12.ª edição do FesTin

Uma nova palavra que só agora teve consagração dicionaristica, apesar de já fazer parte do mundo do cinema há quase duas décadas. Define-se por juntar características do documentário tradicional e elementos ficcionais. 

<i>Sororidade</i>: uma palavra nova <br>com um conceito bem antigo
Com dicionarização recente

Com registo recente nos dicionários, a palavra sororidade é, por exemplo, uma das novas mil palavras constantes da mais recente atualização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras (ABL). A verdade, porém, é que ela sobressai já desde os anos 70 do século passado e, até, num conto de Eça de Queirós

Como falar buzinês
Um código para o uso da buzina

«[E]stou a aprender a linguagem portuguesa da buzinação e já vi que não será nesta vida que eu hei-de dominá-la» – lamenta o escritor Miguel Esteves Cardoso, que fala de um código para o uso da buzina do automóvel, o «buzinês», e cria termos para dois tipos de buzinadela – «cortinadela» e «curtinatória».

in jornal Público de 9 de julho de 2021.

 

A família
Neologismos formados a partir de covid
A dinâmica lexical, motivada pela pandemia, tem trazido novas palavras ao léxico português. Em particular, a palavra covid tem gerado uma família de palavras que se vai alargando de tal forma que já se fala em "covidês" (a língua da covid). 
 
Crónica da autora , emitida no programa Páginas de Português do dia 21 de janeiro, na Antena 2. 
 

 

O que é colorismo?
Discriminação pelo tom de pele

Em torno da discriminação pela cor de pele, a jornalista brasileira Layane Moises Coelho define não só a expressão colorismo, «(...) usado frequentemente refere-se ao modo como cada indivíduo é tratado, dependendo do tom de pele», como traz para o centro da mesa outros termos relacionados com o tom de pele e, consequentemente, com a discriminação racial. Artigo de opinião originalmente publicado no jornal eletrónico Voz das Comunidades no dia 21 de fevereiro de 2019.

A uberização do <i>karma</i>
O neologismo que conduz o destino da atualidade política brasileira

Para o jornalista português João Almeida Moreira, correspondente do Diário de Notícias, em São Paulo, tem-se assistido nos últimos anos à uberização da vida política do Brasil, isto é,  muitos políticos brasileiros parecem conduzidos por atos de traição e vingança, consumados de forma pronta, ironicamente ao estilo do serviço de transporte Uber. Crónica que o autor publicou no referido jornal em 30 de abril de 2020 e que aqui se transcreve com  devida vénia.

 

 A forma karma, que é a do original transcrito e está registada como estrangeirismo, tem um aportuguesamento já dicionarizado: carma (cf. Dicionário Houaiss). Quanto ao título, ocorre o termo uberização – que pressupõe o verbo uberizar, um derivado no nome Uber –, pelo qual se entende o negócio apoiado nas tecnologias móveis que liga, através de uma plataforma digital, o consumidor ao fornecedor de produtos e serviços de forma personalizada e o mais diretamente possível (cf. Alexandra Leitão, "Uberização da economia", Jornal Económico, 05/09/2017). O nome comum e o verbo donde procede têm também sido empregados em tom crítico, porque a oferta de serviços pelas plataformas digitais acaba por se tornar frequentemente uma estratégia empresarial para fugir às responsabilidades sociais decorrentes da admissão de trabalhadores (muitas vezes chamados "colaboradores"; cf. Safaa Dib, "A uberização desregulada do trabalho", Jornal Económico, 17/01/2020).

Desconfina-me
À volta de recentes usos da derivação do confinamento imposto pelo covid-19

pandemia de covid-19 obrigou ao confinamento, e a este sucede afora o desconfinamento, palavra que até há poucas semanas só existia como possibilidade. Crónica publicada no jornal Público no dia 5 de maio de 2020.

O entãosismo

A propósito dos debates à volta da atualidade política internacional  na Europa, o historiador e cronista* Rui Tavares cria o neologismo entãosismo, com base no marcador discursivo «e então...?» e para traduzir o inglês whataboutism, termo aplicável a uma variante do argumento tu quoque, isto é, um contra-argumento falacioso através do qual se acusa o interlocutor de não praticar o que diz.

* in jornal "Público" de 31 de agosto de 2018.