Poema de Ary dos Santos, inserto no livro Canções da Revista «Uma no cravo outra na ditadura»
Poema de Ary dos Santos, inserto no livro Canções da Revista «Uma no cravo outra na ditadura»
Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem se saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar na caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
«Minha pátria, minha língua/Linha pátria, minha míngua», um poema inédito de Rui Zink, que é apresentado pelo Jornal de Letras como «uma declaração de amor à língua portuguesa», para assinalar o 32.º aniversário do JL (de 21/03/2012).
Minha pátria, minha língua
Linha pátria, minha míngua
Juro-te, se fores minha gramática
Eu serei tua sintaxe.
É que, em ti, gosto de tudo
Dos sons, dos ecos, da surdez
Até das tuas rimas fáceis
Em extáse, em extáse.
Certo, nem sempre nos entendemos
Nós prezamos tão pouco a nossa língua,
Que tão sómente as outras aprendemos,
Em desar da nativa; e a ser-nos dado,
Na francesa escrevêramos, faláramos,
Como já na espanhola, por lisonja
E por louca vaidade, compusemos!
[...]
Falemos português brando e sonoro
A portugueses que entender-nos cabe.
E se espertos me argúem os peraltas
Que as riquezas vocais que assim pretendo
Introduzir, empecem à clareza
Da língua, e que o vulgar dos portugueses
Não pode súbito abranger o senso
Das vozes clássicas, remotas do uso
(...)
Excerto do texto «A Voz do Mar», lido por Vergílio Ferreira em 1991, na cerimónia em que lhe é atribuído o Prémio Europália (Bruxelas), um discurso manifestamente de afirmação da língua portuguesa como reflexo da cultura de um povo cuja identidade é indissociável do mar. Destaca-se daí uma frase lapidar – «Da minha língua vê-se o mar» (...)
«Um povo que deixa o seu idioma degradar-se, aceitando todo o tipo de estrangeirismos, contributos desnecessários, em breve estará de joelhos.» Extrato do livro Milagrário Pessoal, de José Eduardo Agualusa.
A nós interessam-nos as palavras novas, disse eu. lara trabalha com neologismos. Selecciona os neologismos que devem ser dicionarizados.
Alexandre Anhanguera estremeceu, trocou um rápido olhar com Plácido Domingo.
Poema que aqui se regista, como evocação dos 750 anos do nascimento de D. Dinis, o rei-trovador enaltecido por Ferna...
O génio da língua é a essência espiritual emanada dos seus vocábulos intraduzíveis, que se pode sintetizar numa expressão mais ou menos definida.
Na língua portuguesa há um certo número de palavras altamente expressivas do que a nossa sensibilidade possui de mais íntimo e característico, e, por isso, sem equivalentes nas outras línguas.
Mas conhecemos ainda uma célebre palavra animada pelos dois princípios religiosos que definem a alma pátria.
A poetisa portuguesa
Sophia de Mello Breyner
gostava de saborear
uma a uma
todas as sílabas
do português do Brasil.
Estou a vê-la:
suave e discreta,
debruçada sobre a varanda do tempo,
o olhar estendendo-se com o mar
e a memória,
deliciando-se comovida
com o sol despudorado
ardendo
nas vogais abertas da língua,
violentando com doçura
os surdos limites
das consoantes
e ampliando-os
para lá da História.
Mas saberia ela
quem rasgou esses limites,
com o seu sangue,
a sua resistência
e a sua música?
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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